Seguidores

27/04/2009

Vem me espreitar...

22/04/2009

Equador

Sentada na areia, ela tirou as botas de montar, com algum esforço e praguejando entre dentes. Depois, pôs-se de pé e desabotoou um por um todos os botões da camisa e despiu-a, atirando-a para o lado e mostrando o curto corpete que lhe segurava o peito.

A seguir fez o mesmo com os botões deste, retirou as alças de cima dos ombros e libertou-se dele, deixando ver um peito grande, voluptuoso mas firme, com os mamilos redondos e bem salientes. Depois desabotoou as calças de lado e deixou-as deslizar pelas pernas abaixo, sacudindo os calcanhares para lhe sairem pelos pés.

Tinha umas pernas longas e perfeitamente desenhadas, num tom de pele mais escuro do que seria de esperar. Quando acabou de se despir por completo e ficou nua, começando a caminhar para a água, Luís Bernardo já não conseguiu continuar aquela devassa muda do corpo dela. Estava a olhar para a cara de Ann e para o seu olhar: ela também olhava para ele, exposta, tranquila, só o sorriso de malícia lhe desaparecera e ela contemplava-o sem nenhuma expressão que não aquele ar de determinação silenciosa, quase premeditação, com que se despira e caminhava ao seu encontro.

Luís Bernardo levantou-se finalmente da água, recebeu-a de pé, corpo contra corpo, sentindo o peito dela que se encostava e espalmava na lisura do seu, as coxas que se fundiam nas suas, a boca que, sôfrega, mergulhava na dele, ficou assim por uns instantes, como que entranhado no corpo dela, e depois Ann empurrou-o suavemente pelos ombros e ele desequilibrou-se e caiu para trás, arrastando-a, agarrada a si, na sua queda.

Emergiram da água de joelhos na areia, Luís Bernardo puxou-a contra si, voltou a procurar a boca dela, agora tinha um gosto a sal e mel misturados, sentiu a textura da sua língua que percorria a dele sem pudor algum e a fúria com que se lhe entregava começou a fazer-lhe a cabeça andar à roda. Soltou-se da boca dela e começou a beijar-lhe o pescoço e os ombros, que eram largos e formando uma linha recta, as mãos procuraram o peito, tão grande que não lhe cabia nas palmas das mãos. Então, desvairado de desejo, mergulhou a cabeça no seu peito e começou a chupar-lhe os mamilos, enquanto com as mãos continuava a devassar-lhe o peito, ora segurando cada um como se quisesse medir-lhe o peso e a consistência, ora esborrachando-os nas mãos espalmadas.

Mas Ann não ficou quieta, não fechou os olhos, nem gemeu, nem atirou a cabeça para trás, seduzida e vencida. Continuou antes, com a mesma ânsia à procura da boca dele e depois desceu-lhe uma mão ao longo do corpo até que, debaixo de água, encontrou o seu sexo, que estava rijo e apontado para cima, e segurou-o com força, apertou-o com a mão em concha, percorrendo-o para cima e para baixo. Luís Bernardo puxou-a para fora de água, dobrou-a pela cintura junto à areia molhada e fê-la cair de costas no chão. De novo se perdeu no seu peito, que o deixava fora de si, ora lambendo-o, ora apalpando-o com as mãos bem abertas, ora enfiando no meio dele a cabeça, enquanto sentia as suas coxas esmagarem as dela e o seu sexo vir comprimir-se de encontro à sua barriga.

Esmagavam-se, um contra o outro, como animais no cio, entregues pelo mar à areia da praia, para que consumissem o desejo. Todo o tempo Luís Bernardo fora arrastado por aquela onda devastadora de desejo, por aquela mulher voluptuosa e linda que se despira e viera ter com ele, mar adentro, e agora, de repente, sentia que devia dizer ainda alguma coisa, ser alguma coisa mais do que um macho preparando-se para cobrir uma fêmea.

- Ann... - começou a falar, sem saber bem o que queria dizer, mas ela atalhou-o logo.

Tinha um sorriso tenso na cara, a mesma determinação no olhar, e as suas mãos puxaram-no pela nuca ainda mais de encontro ao seu corpo.

- Schiu, Luís... come. Come to me!

A mão dela voltou a procurar-lhe o sexo, segurou-o com força, descolou-o da sua própria barriga e, arqueando ligeiramente o corpo, abriu as pernas e encaminhou-o para dentro de si. Então ele entregou-se sem mais pensamentos, começou a entrar nela devagar, contendo-se, mas sentiu-a molhada, de uma espuma espessa que não era só de mar, e, comum suspiro quase inaudível, entrou fundo nela, tão fundo que sentiu a terra girar sobre a sua cabeça, sentiu que a areia do chão tremia como o corpo dela, sentiu-lhe a língua salgada, qualquer coisa ainda mais que se abria e que se rasgava para o receber, algures, debaixo de terra, um vulcão adormecido rugiu e ele rugiu também, com o vulcão, com ela, um ronco surdo em que tudo se fundiu de repente numa explosão em que ele já só via estrelas cintilando no fundo dos olhos e o azul ou verde dos olhos de Ann servindo de céu a todo aquele caos e, mesmo no segundo antes de se sentir perder e deixar ir no mais fundo dela e de si mesmo, teve ainda tempo para um último assomo de lucidez, onde lhe surgiu nítida e perfeitamente crua a certeza de que se perdera para sempre no corpo, no olhar e no abismo daquela mulher.

Muito tempo depois - uma eternidade, para quem, como ele, se sentia de repente um criminoso à beira de ser descoberto - Ann soltou-se dos seus braços, pousou-lhe um beijo suave sobre a boca e, suspirando, disse:

- Agora tenho de ir. E começou a vestir-se sem pressa, ele vendo aos poucos aquele corpo de fêmea inteira e perfeita que se ia cobrindo e desaparecendo do seu olhar, mas já nunca mais da sua memória. Caminharam até onde estavam os cavalos. Ann desamarrou o seu, aproximou-se dele com o cavalo pela rédea, e de novo encostou o corpo todo ao de Luís Bernardo e deu-lhe um último e prolongado beijo. Ele nada dissera, desde que a tinha possuído na areia. Calado, ficou a vê-la afastar-se, e acendendo nova cigarrilha, ficou ali, no alto da colina, contemplando o mar, que continuava transparente como já nada mais o era, e olhando, com um aperto no peito, o exacto lugar que as marcas na areia assinalavam como o dos instantes impensáveis que tinha acabado de viver.

Não fossem essas marcas, que a maré em breve viria apagar, e era como se tudo não tivesse passado de um sonho.


in Equador (excerto do Romance escrito por Miguel Sousa Tavares)
Oficina do Livro, 2003, Lisboa.