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17/03/2008

Aventuras de uma secretária numa sociedade de advogados (Parte I)

Lá estava eu recém licenciada à procura de trabalho, sabia que dificilmente iria encontrar algo na área de marketing, ainda mais por ter sido uma aluna tão “suficiente” e ter terminado o curso com uma singela média de 12 valores.

O porquê de uma nota tão fraca prende-se com algum desinteresse pelo curso. Fi-lo para ser Dr.ª e essencialmente por poder dar essa alegria aos meus pais. Não convém esquecer que enquanto estava na universidade e longe de “casa” tive a oportunidade de me conhecer melhor, e explorar a relação entre homens e mulheres... mas isso são outras histórias, não histórias de uma secretária.

Retomo onde me havia perdido, na minha procura por um novo trabalho, estava desesperada, sem trabalho e com a licenciatura concluída nada me reataria senão o regresso à aldeia, e regresso à castração, e isso ultrapassa o domínio do concebível.

Era uma solarenta manhã de julho e lá me levantei a custo, dirigi-me até ao café mais próximo, sentei-me e pedi um café e o jornal. Devorei os classificados como se de um novo trabalho dependesse a minha liberdade, imaginei-me a fazer um pouco de tudo, imaginei-me numa cozinha gordurosa, ou a distribuir publicidade sujeita ao sol e chuva, depressa caí na real e estive quase a fechar o jornal quando vi um anuncio que pedia uma secretária, era para uma firma de advogados.

Imaginei-me num filme de grandes empresa de advogados cheio de homens giros e interessantes, apesar de saber que claramente não passava de uma ilusão não resisti em ir lá ver com os meus próprios olhos a tal sociedade de advogados. “Sweet eluision” pensei eu, mas faz bem sonhar um pouco. Ria-me da minha figura de contente, eu tinha um sorriso de um lado ao outro da cara. A morada referida ficava mesmo no centro da cidade, imaginei um daqueles prédios recuperados e decorados por nomes sonantes. Apesar de o caminho ainda ser longo resolvi ir a pé, estava tão eléctrica que penso que morreria de ansiedade se tivesse de esperar por um autocarro. Ia fazendo filmes na minha cabeça, de como tudo deveria ser tão chique e agradável, mas procurando-me consciencializar que os advogados não deveriam parecer como essas estrelas de Hollywood.

Cheguei à rua referida, parei, enchi os pulmões e comecei à procura do número, dei por mim a subir e descer a rua e sem encontrar a casa, depressa entendi que os meus olhos estavam cegos e não queriam acreditar que podia ser ali. Assim como as santas quando são recuperadas perdem as cores luminosas de outra ora, possivelmente poderia ter acontecido o mesmo com aquele velho prédio. É incrível a quantidade de desculpas que o nosso cérebro encontra quase momentaneamente numa tentativa de iludir a realidade. Bati na porta. Depois de repetitivamente ter tocado na campainha e a porta continuar fechada, eis que então a porta abriu-se, entrei e deparei-me com um hall de entrada antigo, em pedra, muito mal iluminado, neste havia uma velha mesinha de porteiro, resolvi esperar junto da mesma, então ouvi barulho de uma voz jovem a falar junto do cimo da escada. Espreitei e vi um homem jovem de fato a falar ao telemóvel, fez sinal para subir as escadas e segui-lo até ao gabinete mais próximo. Apontou-me uma cadeira e sentei-me. Este escritório apesar de não ser o ultimo grito, via-se que havia ido reformulado há pouco tempo, tinha um aspecto cuidado apesar dos papéis espalhados um pouco por todo a lado. O homem à minha frente entretinha-se a falar com um cliente e dava-lhe indicações como deveria proceder se ta voltasse a acontecer, não entendi bem o que se tratava.

Também não me esforcei muito depressa concertei-me no belo exemplar masculino que tinha à minha frente. No espaço de segundos já estava a ter pensamentos impróprios para uma entrevista de emprego. Culpei o calor. Aos poucos apercebi-me que não era a única afectada pelo calor, senti que aos poucos o advogado foi perdendo o fio à meada no que respeita à conversa, e a sua concentração dispersou-se em mim. Olhou-me nos olhos e nesse mesmo instante do outro lado da linha devem ter questionado-o, pois sentiu a necessidade de rodar a cadeira e virar-me as costas pedindo ao seu interlocutor para repetir a questão. A resposta foi demorada, tão demorada que se fosse outra pessoa que estivesse à minha frente não teria esperado. Com tanto tempo à espera não tive outro remédio senão ceder à minha mente criativa, imaginava como ele seria, como advogado e como homem. Imaginei-me a tocar nos seus cabelos, tinha um pescoço lindo, como seria o peito, como seria tudo o resto que o seu fato cobria. O desejo foi subindo de nível, tinha que me concentrar em algo diferente olhei para a alcatifa, parecia ter já alguns anos, não deveria ter sido substituída na última remodelação do escritório, depressa imaginei-me naquele chão enrolada com aquele homem.Ouvi uma voz ao longe, que depressa se tornou ao perto.

- Em que posso ajudá-la?

- Vim por causa do anúncio de emprego...

- Que anuncio?Mostrei-lhe o jornal. Riu-se.

- Afinal sempre vamos contratar uma secretária, até que enfim... Desculpe a ter feito esperar...

- Está-me a querer dizer que não vão contratar ninguém...

- Não. Melhor dizendo sim, vamos contratar uma secretária. Não era suposto ter ligado primeiro a marcar uma hora para a entrevista?!

Respondeu-me com um ar de superioridade que eu não gostei. E respondi-lhe no mesmo tom de voz.

- Para tal era necessário que fosse referido o número de contacto no anúncio.

- Desculpe mas o meu sócio tomou a iniciativa de contratar uma secretária sozinho, e foi ele quem colocou o anuncio no jornal...

- Talvez devesse ser com ele que eu devia estar a falar.

Disse com um tom de voz tão decidido que fiz entender ao jovem advogado que ou ele começava a assumir responsabilidades ou em me ia embora. Ao mesmo tempo e sem saber bem como havia no ar um clima de sedução, ou era o calor que fazia os corpos suarem mais do que habitual e as hormonas andavam no ar.

- Somos sócios, e como tal temos autonomia na tomada de decisão, confiamos plenamente na capacidade um do outro. Eu conduzo a entrevista...

- E toma a decisão agora disse eu com um ar maroto... Senti que o que foi dito entretanto não significou nada, mas o como foi dito e a nossa linguagem corporal estava totalmente em sintonia. Lembro-me de ouvir dizer...

- Estamos em pleno Verão e as pessoas estão mais preocupadas com as férias do que em arranjar emprego.

Disse o jovem advogado com um ar tão maroto que não resistiu a morder o seu lábio. Desejei que fosse os meus que estivesse a morder.

- A remuneração inicial será igual ao salário mínimo...

- Por mais 100€ .... Dou-lhe todo o sexo que desejar, à excepção de sexo oral

Eu não acredito que disse isto. Uma parte em mim estava em choque, o que raio me tinha passado pela cabeça?! Mas não consegui deixar de sorrir. Não era pelo dinheiro. Já sabia que se fosse trabalhar junto daquele ser lindo mais cedo ou mais tarde lhe saltava para cima, o aumento pedido foi uma forma de renegociar a remuneração. Ele olhou para mim com um ar tão satisfeito, como se finalmente houvesse uma mulher capaz de ir directa ao assunto, era claro que naquela relação de trabalho haveria sexo, e pelo que parecia até ao momento, muito sexo.

- Por mais 50€ todo o sexo sem excepção. Rematou ele.

- O dinheiro não me faz assim tanta falta, ficamos pela minha proposta.

- Claro.Disse ele num tom como se estivéssemos a fazer um acordo de negócios.

O telemóvel dele entretanto tocou e a magia quebrou-se.

- Vou ter de sair urgentemente, será que...

Completei a sua frase.

- ... posso começar já e ir anotando os recados. Claro. Sem problemas.

Vestiu o casaco que entretanto havia despido no calor da conversa, agarrou na pasta e já ia de saída, quando voltou para trás e beijou-me. Foi um beijo curto mais intenso, soube-me bem, foi o selar do nosso contrato, já era oficialmente secretária de uma firma de advogados.

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma historia maravilhosa, inquietante e marota desta que deveria ter um blog seu. Espero que publicam mais contos.

Anónimo disse...

Adorei a tua historia,escreves com muito realismo,e um sentimento uico. Coninua que nos gostamos.
boa sorte