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19/03/2008

Aventuras de uma secretária numa sociedade de advogados (Parte II)

O telefone tocou. Paralisei a olhar para ele. Não fazia ideia de como deveria atendê-lo, não sabia o nome da sociedade de advogados, não sabia o nome dos advogados, não sabia onde estavam, o que estavam a fazer e quando voltariam, nem os contactos pessoais de cada um deles sabia. Maldita hora em que me disponibilizei para começar a trabalhar já hoje e sem ter sido sujeita a um processo de integração. Depois pensei no beijo e como tinha sido bom, e resolvi atender o telefone esperando que me fizessem alguma pergunta que soubesse responder.

- Sim?

- Sim?! ... Penso que me enganei no número peço desculpa...

Depois de uma pausa:

- Não me posso ter enganado no número pois estou a falar do meu telemóvel...

Fez-se luz e pensei que poderia ser o outro sócio.

- Fala a nova secretária.

- Já temos secretária!? Finalmente! Onde está o Dr.?

Tentei explicar o melhor que pude e dei levemente a entender que precisava de ajuda. A mensagem foi entendida pelo meu interlocutor. Que apressou-se a responder:

- Não se preocupe que eu vou já para o escritório.

Tinha uma voz mais séria do que o sócio, parecia mais velho. Imaginei-o com um bigode, não sei porquê. Depois comecei novamente a pensar no outro sócio e perdi-me num suspiro.

Desci do gabinete do advogado onde me encontrava ainda e ao deparara-me novamente naquele hall em pedra mal iluminado arrependi-me por breves instantes em ter aceite este trabalho. Comecei a explorar o meu novo território. Abri uma velha porta de madeira que dava para uma espécie de sala de espera, também ela em chão de pedra com uns sofás com pelo menos vinte anos. Pensei se fosse cliente e tivesse que esperar numa sala daquelas era bom que o caso fosse de vida ou de morte e que aquele fosse o melhor advogado do país. Dei por mim a tentar imaginar os casos que deviam passar por ali. Pouco depois a campainha da porta tocou. Afinal a campainha tocava? Porque tinha demorado tanto tempo a abri-me a porta quando toquei?!

Abri a porta. Apareceu um homem jovem, de fato e óculos escuro, de pasta e jornal na mão.

- Não resisti a comprar o jornal para ver como tinha ficado o anúncio.

Tirou os óculos, e virou-se para mim no sentido de me cumprimentar. Assim como já tinha acontecido anteriormente, senti que ficou encantado a olhar para mim. Bendito o Verão, normalmente não chamo assim tanto a atenção masculina, deve ser do calor. Mas depressa moderou o seu olhar e ficou sério com um olhar de mais absoluto respeito. Apesar de ser um homem igualmente interessante, não me senti atraída, faltava-lhe algo e depressa percebi o quê. Tinha pouco à vontade perto de mim, e mais tarde descobri que perto de todas as mulheres em geral. Alegrei-me com este facto, pelo menos com este sócio poderia ter uma relação profissional sem o constante jogo de sedução que iria caracterizar a minha relação com o outro sócio. Apesar do seu pouco à vontade senti que se esforçou por me integrar.

- Já vi que conheceu a nossa sala de visitas - Disse rindo.

- Sempre que possível, tentamos que nenhum cliente passe por aqui, para tal é importante que as marcações sejam feitas com alguma tolerância de ponto. O nosso caro colega não é perito em tal, antes pelo contrário marca inclusive clientes para a mesma hora, o que acaba por sobrar para mim. Pois acabo por os receber no meu gabinete e vou tomando notas do caso, foi assim que muitos casos passaram para as minhas mãos. O meu caro colega é um pouco selectivo nos casos que aceita, e não gosta de passar muito tempo com o mesmo caso. Vai se aperceber da sua pouca apetência para o trabalho árduo e continuou. Por isso mesmo somos sócios, desde o tempo da faculdade nos completamos. Somos amigos há muitos anos...

Parou o seu discurso ao ser interrompido pelo telemóvel.

- Peço desculpa mas tenho pouca rede cá em baixo por isso vou para o gabinete.

Senti-me novamente sozinha. Resolvi explorar as restantes portas da sala de visitas. Abri a primeira porta e descobri um arquivo, olhei para as paredes cheias de humidade e pensei que aqueles dossiers brevemente iriam entrar em processo de decomposição. Fechei a porta e desejei nunca ter de procurar nada naquele arquivo.

Abri a segunda porta e nada me poderia preparar para o que vi. A casa de banho estava num estado completamente lastimoso, cheia de humidade nas paredes as loiças sanitárias estava completamente amarela, vi uma quantidade considerável de diferentes tipos de animais rastejantes.

Nesse instante senti-me a ser salva daquele pesadelo. Uma mão puxou-me para trás e fechou aquela porta, encaminhou-me para o hall e fechou a porta da sala de espera.

- Deveria ter um letreiro nesta porta a dizer para abrir só em caso de emergência.

Riu-se e eu perdi-me no seu sorriso. Isto não pode ser só o calor pensei eu, esta história de ser mulher e estar sujeita a ciclos tem muito que se lhe diga.

- Vou-lhe mostrar a nossa verdadeira sala de espera, de convívio e a nossa casa de banho.

Abriu-me a porta e saí acompanhada, demos uns passinhos e entramos num café este sim, antigo mas remodelado e cuidado de modo a manter todo o seu esplendor. Tinha um ambiente muito acolhedor, talvez demais se considerarmos que era esperado ser a sala de espera de um gabinete de advogados. Via-se claramente que os jovens advogados eram clientes frequentes daquele estabelecimento. Estava eu a admirar ainda aquele estabelecimento quando foi colocado o almoço à minha frente.

- Alimente-se que temos uma tarde de intenso trabalho pela frente!

Assustei-me, não pelo trabalho intenso, mas por sentir que numa manhã tinha experimentado mais sensações diferentes do que no mês passado dedicado ao ócio e às frequências. Passamos a tarde a falar de trabalho, a falar dos casos, do que era esperado que fossem as minhas tarefas.

- Já está na hora de pormos fim ao trabalho por hoje.

- Não sabia que era tão tarde.

Ao olhar lá para fora fiquei surpreendida ao ver que chovia intensamente.

- Está a chover...

- Esteve a chover a tarde toda...

Disse o meu novo patrão com um ar admirado. Sinceramente não me tinha apercebido, a minha atenção ia para o que o jovem advogado dizia, e por outro lado centrava-me em pensamentos sobre o sócio.

- Onde mora? Se quiser dou-lhe boleia até casa.

Aceitei a boleia. Fechamos o escritório e dirigimo-nos ao carro. Ao entrar no carro o meu novo patrão disse-me que necessitava de ir à farmácia antes, para eu esperar um pouco. Tive um pressentimento que a ida à farmácia tinha algo a ver comigo. Ao entrar no carro o saco da farmácia foi colocado no tablier à minha frente. Tentei ver disfarçadamente o que continha, mas foi impossível.

- O trânsito está impossível, basta um pouco de chuva e as pessoas desaprendem a conduzir. Disse com ar cínico.

- Vou fazer um ligeiro desvio pela marginal pode ser que esteja melhor o trânsito por lá.

Achei o desvio muito grande e pensei que mais valia estar nas filas de trânsito.

- Já que estamos aqui, podíamos seguir em frente e aproveitávamos para termos um serão descontraído.

A conversa caiu-me mal. E não foi a única coisa que me caiu em cima. Após uma travagem brusca o saco da farmácia abriu-se e o seu conteúdo caiu-me em cima, preservativos de diferentes marcas e feitios. Passei-me, quem aqueles advogadozecos julgam que são. Pensei que quando o telemóvel tocou o pratão, obteve indicações do seu sócio para ir para o outro gabinete. Pensei que tivesse a ver com trabalho, contudo estranhei os risos e as conversas em tom mais baixo. Imaginei logo a conversa,

- Queríamos uma secretária, e saí-nos uma que faz o serviço completo.

Ao contrário da ser sensível, disponível, simpático, sedutor, seduzida que fui durante o dia revoltei-me com a situação e passei-me completamente.

- Com que então um serão descontraído...

Disse atirando-lhe para cima o que há pouco me tinha caído no colo.

- Não sei o que vocês pensam que eu sou, mas não estou interessada em ser mais vossa colaboradora!

O meu ex patrão olhou para mim com um ar de assustado como que não entendesse o que se estava a passar. Este não esperava resistência, pensei eu. E saí do carro debaixo de chuva.

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