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21/03/2008

Aventuras de uma secretária numa sociedade de advogados (Parte III)


- O que aconteceu entre ti e a nova secretária?! ... Não rias e responde-me já!

- Meu! Porque me falas nesse tom?!

- Ela saiu do carro com uma conversa muito estranha, e anda por aí debaixo de chuva.

- Onde está?

- Na marginal

- Mas isso aí é perigoso, vai ter com ela

- Explica-me o que me aconteceu.

Resumidamente como só um homem é capaz, a informação foi recebida e processada. Assim que começou a entender o que se passava o jovem advogado pôs a caminho, amaldiçoou a câmara pelas obras que impossibilitavam o carro de entrar para junto daquele bairro ribeirinho. Com medo de ser assaltado mas com um grande sentimento de responsabilidade o advogado saiu do carro tendo ir buscar ao porta-bagagem o guarda-chuva. Respirou fundo e entrou por um dos bairros mais problemáticos da cidade. O toque do telemóvel fez o seu corpo estremecer.

- Estou a tentar ir ter contigo, mas o trânsito está impossível.

- Espero que nenhum gandulo tenha ouvido o toque do telemóvel senão não saio daqui com o telemóvel, aliás se sair daqui com vida vou com sorte...

- Desculpa não te ter contado a cena toda, mas estava à espera de te contar pessoalmente.

- As desculpas ficam para depois, só a quero encontrar rapidamente e sair deste bairro.

O jovem advogado começou a ouvir várias pessoas a falarem alto, e decidiu seguir as vozes deparou os habitantes mais idosos do bairro a tentarem dar indicações como chegar ao meio de transporte para poder sair daquele bairro, no meio completamente encolhida e encharcada estava a jovem secretária. Conhecia há poucas horas mas já sentia algo de especial em relação àquele exemplar feminino. Vendo-a ali como uma flor a murchar, sentiu uma enorme necessidade de a fazer florescer, aquele homem que habitualmente era um pouco medroso e a quem em enumeras ocasiões faltou uma dose de coragem, encheu os pulmões e num movimento repentino e ao mesmo tempo assertivo raptou a sua princesa das trevas.

Pela segunda vez, no mesmo dia, aquela jovem seria salva de um contexto desagradável, pelo mesmo príncipe. Deixou-se levar, colou-se a ele e sentiu-se protegida e acima de tudo o seu corpo voltou a aquecer. Olhou para ele com uns olhos de agradecimento misturado com desejo. Após tudo o que aconteceu, a forma como reagiu no carro e agora e naquele contexto surgiu o desejo. Nem a chuva é capaz de matar o desejo, riu-se do ridículo da situação.

Ao chegar ao carro, o jovem advogado abriu a porta e desviando os vestígios do material da farmácia aconchegou-a.

Ao sentar-se no carro e fechar o carro, o advogado suspirou de alívio.

- Desculpa mas não tive tempo de por o carro em condições para a receber.

Riram-se os dois em uníssono.

- Obrigada por tudo.

E do nada um beijo surgiu, diferente do dessa manha, este foi mais calmo. Mas demorado muito demorado, quase como se de um beijo apaixonado se tratasse. O beijo terminou com deixando no ar um clima de sintonia entre amantes. O telemóvel tocou, e optou-se pelo modo mãos livres

- Ela já está aqui comigo, estamos bem.

- Venham cá ter.

- Queres ir até à casa do teu ex patrão?

- Ex patrão!! que conversa é essa? Agora é que têm mesmo que vir... ou vou eu ter convosco.

- Podes esperar aí que nós já vamos...

- Princesa, não ouvia a tua voz há muito tempo...

- Desde hoje de manhã...

- Já há menos trânsito, daqui a pouco estamos aí, até já.

Houve um momento de silêncio que durou até à chegada na casa do jovem advogado. A jovem que tinha mantido os olhos fechados durante grande parte do tempo, abri-os e mirou o advogado quando este abria-lhe a porta do carro. Caminharam abraçados até à porta do prédio. A porta abriu-se antes de ser necessário tocar na campainha. O casal soube nesse instante que o anfitrião os tinha visto. A incerteza pairava no ar.

1 comentário:

Rui Caetano disse...

São esses momentos de silêncio que definem o rumo de uma vida...